Haja Vista https://hajavista.blogfolha.uol.com.br Histórias de um repórter com baixa visão Tue, 07 Dec 2021 17:23:21 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Site vai mapear e dar visibilidade a artistas com deficiência https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/2021/11/25/site-vai-mapear-e-dar-visibilidade-a-artistas-com-deficiencia/ https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/2021/11/25/site-vai-mapear-e-dar-visibilidade-a-artistas-com-deficiencia/#respond Thu, 25 Nov 2021 17:20:13 +0000 https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/files/2021/11/1.-Cartas-para-Irene_Foto_Juliana-Canancio-300x215.png https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/?p=333 O Itaú Cultural vai mapear a partir de uma plataforma online os artistas com deficiência que atuam no Brasil para aumentar a visibilidade e as oportunidades de trabalho para o grupo.

Chamado Arte e Acesso – Portifólio Coletivo de Artistas com Deficiência, o portal permitirá buscar artistas por áreas de expressão, estado e palavras-chave. Também mostrará uma biografia de cada pessoa cadastrada e indicará suas redes sociais. Estará disponível neste link.

A instituição afirma que o portal tem como objetivo incentivar programadores, curadores e produtores a expandir a presença desses artistas em suas programações.

O lançamento faz parte da programação do festival Entre Arte e Acesso, promovido a cada dois anos e que está em sua quinta edição.

Em 2021, serão 15 apresentações de trabalhos de artistas e pesquisadores com deficiência e rodas de conversa, que vão das 15h de sexta (26) até a noite de domingo (28).

As transmissões serão feitas no canal da instituição no YouTube. Contarão com audiodescrição, Libras (Língua Brasileira de Sinais) e estenotipia.

Entre os destaques da programação está a peça “Birita, procura-se. com estreia às 20h desta sexta.

Nela, uma palhaça com deficiência part5e em busca de um emprego para pagar as contas. O espetáculo é interpretado pela atriz, palhaça, palestrante e produtora Ariadne Antico, que tem paralisia cerebral.

a programação será encerrada no domingo, às 19h, com a peça “Cartas para Irene”, da Cia. Ananda, que conta a história de uma mulher que vê o filho perder a visão e escolhe educá-lo com confiança, tendo em vista o desenvolvimento de suas potencialidades.

Todos os espetáculos ficarão disponíveis para serem acessados até 15 dias após a exibição.

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Minha startup seria uma enciclopédia de formas e cores para que todos pudessem ver https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/2021/04/11/minha-startup-seria-uma-enciclopedia-de-formas-e-cores-para-que-todos-pudessem-ver/ https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/2021/04/11/minha-startup-seria-uma-enciclopedia-de-formas-e-cores-para-que-todos-pudessem-ver/#respond Sun, 11 Apr 2021 17:54:27 +0000 https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/files/2020/10/Foto-Braille-300x215.jpg https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/?p=229 Algumas imagens estão tão arraigadas no inconsciente coletivo que é até difícil saber quando foi a primeira vez que as vimos.

A maioria das pessoas não precisa consultar o Google para evocar na mente o sorriso da Mona Lisa , o formato das Pirâmides do Egito ou o Cristo Redentor. Mesmo que você não tenha viajado pelo mundo, talvez pense que não faz sentido recorrer aos amigos para lembrar como é que era mesmo a Torre Eiffel  ou pedir que alguém faça a pose da Estátua da Liberdade para entender o monumento.

Também conheço isso tudo, tive tempo de apreciar essas imagens quando a visão era mais acurada. Mas e o Taj Mahal? É uma das sete maravilhas do mundo, mas esqueci qual sua forma e cor. Descobrir na internet que é um grande mausoléu construído no Século XVII em homenagem à esposa de um imperador hindu não me traz uma fotografia convincente. Só consigo evocar uma lembrança meio apagada do palácio dos filmes do Aladim, inspirado nele, além do Jorge Ben Jor tocando guitarra.

Construir um repertório de formas e cores básico é um desafio para quem não enxerga, porque nem sempre existem alternativas disponíveis para conhecer o mundo sem depender da visão com independência.

Foi já sem ver a maioria dos detalhes que me deparei com a fachada da igreja da Sagrada família, em Barcelona. Dava voltas em torno do lugar com um amigo explicando a posição das torres e as centenas de representações de passagens bíblicas impressas ali. Descrições são excelentes, mas algo sempre se perde entre a interpretação de um do que está enxergando e a compreensão do outro. Até que ele teve uma ideia para atiçar ainda mais minha imaginação. Fomos a uma loja de lembrancinhas e saí de lá com uma pequena miniatura que, se não dá conta da infinidade de detalhes projetados pelo arquiteto Antoni Gaudí, permite que eu sinta na mão, usando só ´só a memória, os principais contornos de sua estrutura a qualquer momento.

Não é preciso falar de monumentos que estão a um oceano de distância para imaginar como é ver o mundo sem depender dos olhos.

Quando você não enxerga, pensar numa maçã pode ser antes lembrar da textura da casca da fruta na ponta dos dedos ou da crocância dela nos dentes incisivos antes de recordar que ela é vermelha. A propósito, nem é preciso saber de que cor ela é para lembrar de seu sabor.

E o que será que são cores para quem nunca as viu? Entendo que são uma série muito pessoal de associações entre coisas que levam a mesma tonalidade e estão cheias de afeto, mesmo que compreendê-las com exatidão seja um mistério. Algo como o céu azul do seu vestido ou o girassol da cor do seu cabelo que Márcio Borges explicou em canção, pela voz de Lô Borges no Clube da Esquina, ou os lábios cor de açaí, para ser exato, de Caetano em “Trem das Cores”.

Eu posso me vestir com uma camisa de pêssego para a festa, enquanto ela sairá com as unhas pintadas de morango. Perder essa riqueza de tons é deixar escapar muita poesia.

Por outro lado, é preciso um bom exercício de memória para guardar que o maracujá é amarelo e o limão verde. Ainda bem que a laranja é laranja para facilitar. E desconhecer e perguntar sempre fará parte desse processo. Uma amiga sempre se diverte ao lembrar que um dia veio me contar que agora estava ruiva. Para seu desconcerto, respondi espontaneamente: “Mas e que cor era seu cabelo antes”?

Dar forma e colorir nosso mundo depende da participação  de todos. E garanto que pode ser uma atividade divertida para quem oferece e para quem recebe as informações.

Está claro que temos aí um problema a ser solucionado. O mundo está cada vez mais cheio de imagens e, apesar de estarmos tão conectados, está ficando impossível para pessoas com deficiência visual estarem atualizadas a respeito de todas elas.

Que tal se aproveitássemos todo o avanço da tecnologia para bolar uma enciclopédia sensorial colaborativa? Seria assim, eu procuro pelo Borba Gato e, além da foto da estátua, tenho uma descrição detalhada de sua altura, cara de mal e espingarda. E aí entra a disrupção. Caso isso atice sua curiosidade, a página terá um arquivo para impressão 3D de uma miniatura da estátua, para que todos possam decidir por sua própria conta se gostam ou não dele. Se preferir já ter o item pronto, a encomenda chegará na casa do cliente em menos de 24 horas.

Acho que seria importante ter uma área para celebridades. É muito esquisito não saber como é o Joe Biden ou a Anitta. Teremos também uma seção dedicada à moda, animais, flores, carros e aviões. Penso que minhas preferidas seriam as de insetos assustadores e alienígenas do cinema.

Tenho até nome para a startup, vai se chamar Wikihands, pois terá ali todo o mundo para ser descoberto com as mãos. O pitch e o business plan estão aí, falta só captarmos nosso seed money para tirar a ideia do papel.

Pensando melhor. prefiro ser jornalista a empreendedor. O jeito é cada um fazer sua parte para que o mundo ganhe mais formas para todos.

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