Haja Vista https://hajavista.blogfolha.uol.com.br Histórias de um repórter com baixa visão Tue, 07 Dec 2021 17:23:21 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Máquina de escrever, para quem lê em braille, é ferramenta moderna https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/2021/08/11/maquina-de-escrever-para-quem-le-em-braille-e-ferramenta-moderna/ https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/2021/08/11/maquina-de-escrever-para-quem-le-em-braille-e-ferramenta-moderna/#respond Wed, 11 Aug 2021 15:00:20 +0000 https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/IMG_0578-300x215.jpg https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/?p=286 Em pleno Século 21, depois de conhecer computadores, smartphones, assistentes virtuais inteligentes e até a linha braille,  comemoro a chegada de minha nova máquina de escrever.

Esclareço logo que não sou Saudosista dos tempos da Olivetti. Na verdade, precisei fazer uma busca na internet para lembrar o nome da empresa famosa pelas máquinas da escrever.  A única lembrança que tenho de um modelo do tipo se mistura com o dia em que, visitando o escritório do meu pai, caiu meu primeiro dente de leite

Muito provavelmente isso tudo foi antes de eu saber digitar meu nome em um teclado. Minha alfabetização digital já aconteceu com mouse e monitor à disposição das mãos, acessando o MS-DOS para acionar o CD-Rom do game “Super Street Fighter 2 Turbo” no PC, ainda usando a visão que tinha.

A máquina de datilografia que está agora em meu quarto/escritório tem apenas nove botões. Em vez de deixar tinta no papel, ela perfura a folha para marcar neles os pontinhos do braille.

Seis das teclas da máquina são usadas para marcar no papel cada um dos seis pontos que criam uma cela braille, unidade básica da escrita tátil.

Cada uma dessas celas, formada por duas colunas de três pontos que podem estar levantados ou abaixados. Dependendo da combinação deles, forma-se uma letra ou sinal do braille.

Para escrever um sinal que exige um ponto em relevo, aperta-se uma tecla. Para um sinal formado por mais pontos, segura-se as teclas necessárias ao mesmo tempo. Se eu apertar as seis teclas de uma vez, escrevo a letra “E” com acento agudo.

Também há teclas para fazer o carrinho que cria os relevos no papel descer para a próxima linha, avançar ou retroceder um espaço. Ou seja, nem é tão diferente de controlar o cursor em um arquivo no Bloco de Notas no computador.

O que isso significa, na prática, é que, depois de mais de uma década,  posso voltar a colocar minhas ideias diretamente no papel e em um formato em que eu consiga ler sozinho, sem precisar de nenhum programa de computador que dite o que eu mesmo escrevi.

Agora posso produzir e ter nas minhas mãos uma partitura  e, com ela, ensinar mais gente a ler música, principal motivo para eu desejar uma máquina. Para mim, o mais importante será ter meus textos lidos por outras mãos. O primeiro, com palavras doces para alguém especial, já foi entregue pelo carteiro.

Além de toda a empolgação minha, a máquina também foi recebida com latidos furiosos do Bob, que não gostou do novo batuque de escola de samba daqui de casa. Outro motivo para a irritação canina é que ela tem um sininho que toca quando escrevo, indicando que a linha está   quase toda preenchida. O som agudo pode ter incomodado seus ouvidos sensíveis.

Além da máquina de datilografia, também é possível escrever em braille usando a reglete, uma forma de madeira com furinhos a partir da qual se marcam os pontos do braille com uma Punção, escrevendo da direita para a esquerda.  Para um aprendiz de braille novato, ainda me parece complexo, mas é uma ferramenta prática, por ser possível levá-la a qualquer lugar.

 

Também existem impressoras em braille, para imprimir arquivos digitais. Mas elas podem custar mais de R$ 20 mil, o que torna seu uso inviável com muita frequência.

Minha convivência com a máquina braille é recente, mas conheço histórias de pais e mães que ficaram por noites sentados em frente a uma máquina dessas, copiando livros e apostilas para serem usados por seus filhos na escola. Apesar de estar sendo por vezes substituída pelos notebooks, que são mais leves, discretos e silenciosos, as máquinas ainda são usadas com frequência na sala de aula.

A tecnologia trouxe muitos avanços para a inclusão de pessoas com deficiência visual. Hoje, é completamente viável que se trabalhe por anos em um jornal só escrevendo no teclado de computadores ou em celulares. Mas Considero fundamental que o braille esteja presente na alfabetização de quem não pode ler com os olhos e seja sempre uma possibilidade para quem perdeu a vista mais tarde e quer se reconectar com a leitura de modo silencioso e profundo.

Vida longa para a nova e velha máquina de escrever.

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Campanha de financiamento coletivo distribui equipamento importado para leitura em braille https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/2021/07/28/campanha-de-financiamento-coletivo-distribui-equipamento-importado-para-leitura-em-braille/ https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/2021/07/28/campanha-de-financiamento-coletivo-distribui-equipamento-importado-para-leitura-em-braille/#respond Wed, 28 Jul 2021 13:30:12 +0000 https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/files/2021/07/Foto-300x215.jpg https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/?p=275 Uma campanha de financiamento coletivo está arrecadando recursos para distribuir linhas braille para pessoas com deficiência visual.

Organizada pela professora de inglês Cristiana Cerchiari , que é cega, a iniciativa possibilitou desde maio a compra de um equipamento, que é importado e custa cerca de R$ 15 mil.

Os aparelhos comprados são distribuídos a partir de sorteios. Setenta pessoas com deficiência visual se candidataram para participar. Os interessados não arcaram com nenhum custo para entrar na campanha.

O equipamento permite ler textos em formatos digitais a partir do braille. Sem o recurso, os textos seriam acessados por quem tem deficiência visual a partir de um software que faz a leitura com uma voz sintetizada.

Isso é possível porque o equipamento tem em seu corpo pontos de braille que se levantam ou  se abaixam de acordo com as letras presentes no texto que o usuário quer ler.

A conexão com computadores e smartphones pode ser feita via cabo ou bluetooth. Também há modelos que permitem armazenamento de arquivos no próprio aparelho.

A linha braille também conta com botões similares a de uma máquina de escrever em braille, para que o usuário possa escrever usando os sinais desse código, tanto no computador como também no bloco de notas do próprio aparelho.

Cristiana conta ter uma linha braille desde 2016. Ela diz que com ela fez muitas leituras silenciosas, sem precisar se preocupar em ouvir o leitor de tela, e melhorou seu rendimento na atividade de consultora em audiodescrição, para o qual precisa revisar textos complexos, e fez leitura de livros clássicos em inglês.

Em sua experiência, a leitura com as mãos permite maior concentração do que a escuta de textos.

Uma vantagem importante da linha braille em relação aos leitores de tela é a possibilidade que ela dá de manter um contato maior com a ortografia e os sinais de pontuação.

É possível que, caso não faça uso frequente do braille, especialmente durante a alfabetização, a pessoa que não enxerga tenha dificuldade para aprender a grafia correta das palavras, pois ela passa a depender principalmente da referência sonora para aprender a escrever as palavras.

Outro uso da linha braille menos difundido, adotado pelo autor deste blog, é a leitura de partituras musicais em braille.

Cristiana conta que, durante a pandemia, sentiu que deveria fazer uma ação solidária. Pensou na linha-braille por acreditar que o aparelho oferece muitos benefícios ao usuário, mas seu preço o torna inacessível para muitos.

Segundo Cristiana, a tanto crianças de dez anos como pessoas com mais de 60 interessadas em conseguir uma linha braille a partir da campanha.
Além de Cristiana, mais sete pessoas apoiam a iniciativa voluntariamente, cuidando da divulgação em redes sociais.

A campanha vai até o dia 8 de novembro. Cristiana conta que a quantidade de linhas que serão compradas e sorteadas depende do valor que for arrecadado até a data.

Mais informações no site Vaquinha.

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Alunas de biologia lançam app que mostra fauna e flora do Brasil com acessibilidade https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/2021/05/31/alunas-de-biologia-lancam-app-que-mostra-fauna-e-flora-do-brasil-com-acessibilidade-para-criancas/ https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/2021/05/31/alunas-de-biologia-lancam-app-que-mostra-fauna-e-flora-do-brasil-com-acessibilidade-para-criancas/#respond Mon, 31 May 2021 12:30:20 +0000 https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/files/2021/05/Foto-Iara-300x215.jpg https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/?p=252 Alunas de biologia da Unesp lançaram o aplicativo Iara, que apresenta a fauna e a flora brasileira com recursos de acessibilidade.

A partir dele, as crianças ficam conhecendo a indiazinha Iara, que precisa viajar por todos os biomas brasileiros para colher sementes e recuperar uma árvore mágica que foi destruída pela ação humana. Todo o conteúdo pode ser acompanhado com descrições das imagens e apresentação do texto em Libras (Língua Brasileira de Sinais).

O material inclui vídeos com historinhas narradas e acompanhadas por ilustrações, textos informativos, fotos de animais e plantas, sons da floresta, propostas de desenhos e jogos de pergunta e resposta.

Com o material, mesmo quem não enxerga fica sabendo que o boto-cor-de-rosa mede cerca de dois metros e tem uma nadadeira no centro das costas em formato de triângulo ou que o tamanduá bandeira tem uma cauda peluda, um focinho cilíndrico comprido e garras. Descrições do tipo não são encontradas facilmente e são, além de muito divertidas, fundamentais para a construção do conhecimento de quem não vê.

“Nós duas somos muito encantadas com a vida, a biologia. Trazer esse encantamento para as crianças foi nosso objetivo” com o aplicativo, diz Daniela Maiumi Kita, que idealizou o projeto a partir de uma atividade proposta em sala de aula junto com a amiga Mariana Pupo Cassinelli, ambas com 22 anos de idade.

Mariana diz considerar que o ensino de educação ambiental para crianças forma pessoas mais sensíveis ao tema. Ela conta que a acessibilidade era um pré-requisito do projeto desde as primeiras ideias. Antes de optarem por uma abordagem tecnológica para o material, as duas pensaram em produzir um livro em braille. Porém o alto custo envolvido para impressão e distribuição fez com que a opção pelo aplicativo ganhasse força.

Das primeiras conversas até a Iara ficar disponível foram dois anos de trabalho que envolveram a construção de uma rede com 28 apoiadores da iniciativa, sem os quais não seria possível ir tão longe, diz Mariana.

Participaram desde amigos de faculdade até participantes de pesquisa em acessibilidade de outros estados e instituições como  a Unilehu (Universidade Livre para Eficiência Humana) e a Escola Severino Fabriani  para desenvolvimento do conteúdo em Libras. “Conforme as ideias surgiram, fomos vendo que precisávamos de mais ajuda, de programadores, especialistas”, conta.

Daniela ressalta que todas as colaborações foram voluntárias e a dupla não contou com nenhum financiamento para o projeto.
Encontrar pessoas com disposição e tempo para apoiar a iniciativa foi um desafio que exigiu muita pesquisa no Google e em redes sociais: “De cada cem pessoas que entrávamos em contato apresentando o projeto, três topavam participar”, diz Daniela.

Além de gerenciar as atividades de todos os participantes do projeto, elas também ficaram responsável por escrever os roteiros das histórias da heroína Iara, fizeram ilustrações e até se aprofundaram no uso da Libras para aparecerem em parte dos 500 vídeos com a tradução para a língua de sinais. Elas calculam que, sem deixar de dar atenção às demais matérias do curso,  dedicaram metade do tempo disponível para este projeto. Segundo elas, o esforço resultou da percepção de que este era um trabalho com um propósito especial. No final, a percepção é que o contato com tantos especialistas as fez aprender mais do que imaginavam e mudou suas vidas.

Agora o plano de Daniela e Mariana é buscar parcerias com escolas para que o aplicativo seja adotado por professores em sala de aula. As duas também se dizem abertas a sugestões para aperfeiçoamentos e atualizações futuras.

As atividades da Iara podem ser acessadas tanto por computadores como também tablets e smartphones a partir de seu site. Para iniciá-las, é preciso clicar em explorar e selecionar o recurso de acessibilidade desejado.

 

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Empresa faz maratona de programação para pessoas com deficiência https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/2021/04/18/empresa-faz-competicao-de-programacao-para-pessoas-com-deficiencia/ https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/2021/04/18/empresa-faz-competicao-de-programacao-para-pessoas-com-deficiencia/#respond Sun, 18 Apr 2021 22:40:17 +0000 https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/files/2021/03/teclado-300x215.jpg https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/?p=234 A empresa Avanade, do setor de tecnologia,  e as consultorias de recrutamento Talento Incluir e 99jobs farão uma maratona de programação  (hackathon) exclusiva para pessoas com deficiência.

O formato é tradicional no setor de TI. Esse tipo de competição, que por vezes envolve passar a madrugada programando enquanto se divide uma pizza com o grupo, é usado por grandes empresas para identificar talentos e trazer ideias de negócios para serem desenvolvidas em conjunto.

Os participantes do evento da Avanade, que será online  e ganhou o nome de “Diversificando Códigos”, precisarão desenvolver em grupos uma ferramenta digital para trabalho em equipe que consiga preservar a cultura de uma empresa com toda a equipe em home office.

Haverá avaliação prévia de habilidades técnicas e comportamentais para selecionar os participantes.

os escolhidos ganharão um voucher de R$ 250 para investir em produtos de tecnologia. O grupo vencedor, definido por uma banca de jurados do mercado, receberá uma mentoria individual com um profissional da Avanade. A companhia também tem expectativa de contratar profissionais que se destaquem na maratona.

A consultora Carolina Ignarra, sócia da Talento Incluir, diz que esse tipo de maratona tem o papel de ajudar empresas a atrair e identificar profissionais com potencial no setor de TI, em que há escassez de pessoas qualificadas em relação ao número de vagas disponíveis.

Além disso, o evento também tem o papel de mostrar ao mercado que há pessoas com deficiência com potencial para trabalhar nessa área, afirma.

A atividade será nos dias 15 e 16 de maio  e as inscrições podem ser realizadas até o dia 2 de maio pelo link.

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Minha startup seria uma enciclopédia de formas e cores para que todos pudessem ver https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/2021/04/11/minha-startup-seria-uma-enciclopedia-de-formas-e-cores-para-que-todos-pudessem-ver/ https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/2021/04/11/minha-startup-seria-uma-enciclopedia-de-formas-e-cores-para-que-todos-pudessem-ver/#respond Sun, 11 Apr 2021 17:54:27 +0000 https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/files/2020/10/Foto-Braille-300x215.jpg https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/?p=229 Algumas imagens estão tão arraigadas no inconsciente coletivo que é até difícil saber quando foi a primeira vez que as vimos.

A maioria das pessoas não precisa consultar o Google para evocar na mente o sorriso da Mona Lisa , o formato das Pirâmides do Egito ou o Cristo Redentor. Mesmo que você não tenha viajado pelo mundo, talvez pense que não faz sentido recorrer aos amigos para lembrar como é que era mesmo a Torre Eiffel  ou pedir que alguém faça a pose da Estátua da Liberdade para entender o monumento.

Também conheço isso tudo, tive tempo de apreciar essas imagens quando a visão era mais acurada. Mas e o Taj Mahal? É uma das sete maravilhas do mundo, mas esqueci qual sua forma e cor. Descobrir na internet que é um grande mausoléu construído no Século XVII em homenagem à esposa de um imperador hindu não me traz uma fotografia convincente. Só consigo evocar uma lembrança meio apagada do palácio dos filmes do Aladim, inspirado nele, além do Jorge Ben Jor tocando guitarra.

Construir um repertório de formas e cores básico é um desafio para quem não enxerga, porque nem sempre existem alternativas disponíveis para conhecer o mundo sem depender da visão com independência.

Foi já sem ver a maioria dos detalhes que me deparei com a fachada da igreja da Sagrada família, em Barcelona. Dava voltas em torno do lugar com um amigo explicando a posição das torres e as centenas de representações de passagens bíblicas impressas ali. Descrições são excelentes, mas algo sempre se perde entre a interpretação de um do que está enxergando e a compreensão do outro. Até que ele teve uma ideia para atiçar ainda mais minha imaginação. Fomos a uma loja de lembrancinhas e saí de lá com uma pequena miniatura que, se não dá conta da infinidade de detalhes projetados pelo arquiteto Antoni Gaudí, permite que eu sinta na mão, usando só ´só a memória, os principais contornos de sua estrutura a qualquer momento.

Não é preciso falar de monumentos que estão a um oceano de distância para imaginar como é ver o mundo sem depender dos olhos.

Quando você não enxerga, pensar numa maçã pode ser antes lembrar da textura da casca da fruta na ponta dos dedos ou da crocância dela nos dentes incisivos antes de recordar que ela é vermelha. A propósito, nem é preciso saber de que cor ela é para lembrar de seu sabor.

E o que será que são cores para quem nunca as viu? Entendo que são uma série muito pessoal de associações entre coisas que levam a mesma tonalidade e estão cheias de afeto, mesmo que compreendê-las com exatidão seja um mistério. Algo como o céu azul do seu vestido ou o girassol da cor do seu cabelo que Márcio Borges explicou em canção, pela voz de Lô Borges no Clube da Esquina, ou os lábios cor de açaí, para ser exato, de Caetano em “Trem das Cores”.

Eu posso me vestir com uma camisa de pêssego para a festa, enquanto ela sairá com as unhas pintadas de morango. Perder essa riqueza de tons é deixar escapar muita poesia.

Por outro lado, é preciso um bom exercício de memória para guardar que o maracujá é amarelo e o limão verde. Ainda bem que a laranja é laranja para facilitar. E desconhecer e perguntar sempre fará parte desse processo. Uma amiga sempre se diverte ao lembrar que um dia veio me contar que agora estava ruiva. Para seu desconcerto, respondi espontaneamente: “Mas e que cor era seu cabelo antes”?

Dar forma e colorir nosso mundo depende da participação  de todos. E garanto que pode ser uma atividade divertida para quem oferece e para quem recebe as informações.

Está claro que temos aí um problema a ser solucionado. O mundo está cada vez mais cheio de imagens e, apesar de estarmos tão conectados, está ficando impossível para pessoas com deficiência visual estarem atualizadas a respeito de todas elas.

Que tal se aproveitássemos todo o avanço da tecnologia para bolar uma enciclopédia sensorial colaborativa? Seria assim, eu procuro pelo Borba Gato e, além da foto da estátua, tenho uma descrição detalhada de sua altura, cara de mal e espingarda. E aí entra a disrupção. Caso isso atice sua curiosidade, a página terá um arquivo para impressão 3D de uma miniatura da estátua, para que todos possam decidir por sua própria conta se gostam ou não dele. Se preferir já ter o item pronto, a encomenda chegará na casa do cliente em menos de 24 horas.

Acho que seria importante ter uma área para celebridades. É muito esquisito não saber como é o Joe Biden ou a Anitta. Teremos também uma seção dedicada à moda, animais, flores, carros e aviões. Penso que minhas preferidas seriam as de insetos assustadores e alienígenas do cinema.

Tenho até nome para a startup, vai se chamar Wikihands, pois terá ali todo o mundo para ser descoberto com as mãos. O pitch e o business plan estão aí, falta só captarmos nosso seed money para tirar a ideia do papel.

Pensando melhor. prefiro ser jornalista a empreendedor. O jeito é cada um fazer sua parte para que o mundo ganhe mais formas para todos.

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Banco seleciona pessoas com deficiência para curso de programação e promete contratações https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/2021/03/29/banco-seleciona-pessoas-com-deficiencia-para-formacao-em-programacao-e-promete-contratacoes/ https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/2021/03/29/banco-seleciona-pessoas-com-deficiencia-para-formacao-em-programacao-e-promete-contratacoes/#respond Mon, 29 Mar 2021 23:59:05 +0000 https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/files/2021/03/teclado-300x215.jpg https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/?p=218 O Itaú Unibanco está com cem vagas abertas para um treinamento gratuito em programação para pessoas com deficiência. As inscrições vão até o próximo domingo (4).

Os 20 profissionais que mais se destacarem durante as atividades serão contratados.

O programa tem duração de até seis semanas e será feito em parceria com a escola Gama Academy.

 

Entre os temas que serão tratados na primeira fase do curso estão lógica de programação, HTML, CSS, Javascript e banco de dados. Os que forem selecionados para seguir na empresa passarão por treinamento complementar.

Para fazer a inscrição, é preciso preencher formulário neste link e possuir laudo médico comprovando a deficiência. Experiência prévia na área não é obrigatória, mas será levada em consideração. Podem participar pessoas que moram em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Minas Gerais e Distrito Federal.

Os candidatos farão prova com questões de raciocínio lógico, matemática básica e inglês iniciante.

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Saiba como pessoas com deficiência usam as redes sociais e o que fazer para ser mais inclusivo https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/2021/03/20/saiba-como-pessoas-com-deficiencia-usam-as-redes-sociais-e-o-que-fazer-para-ser-mais-inclusivo/ https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/2021/03/20/saiba-como-pessoas-com-deficiencia-usam-as-redes-sociais-e-o-que-fazer-para-ser-mais-inclusivo/#respond Sat, 20 Mar 2021 22:52:36 +0000 https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/Foto-300x215.jpg https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/?p=206 Cegos e pessoas com baixa visão estão online. Fazem lives, postam vídeos no YouTube, formam inúmeros grupos de conversa no WhatsApp, tuítam e, não duvide, postam muitas fotos.

O ambiente é vibrante. Estou em grupos de bate-papo formados por pessoas com deficiência com centenas de pessoas em que mandar áudio de “Bom dia” é liberado. Também há outros sobre tecnologia assistiva avançada e discussão sobre direitos das pessoas com deficiência, filmes com audiodescrição, educação inclusiva, moda e maquiagem.

Aos poucos começo a descobrir quem está fazendo vídeos para contar sobre os desafios que enfrentam e as descobertas que têm feito sem enxergar. Já há pessoas com deficiência visual colocando no cartão de visita “influencer”.

As conexões fluem com cada vez mais facilidade. Os celulares estão vindo cada vez mais preparados, os aplicativos das grandes empresas vêm se tornando mais acessíveis, apesar de ainda poderem melhorar em muitos casos, e o conhecimento sobre como usá-los está se disseminando entre diversas gerações. Além disso, o universo virtual está livre das barreiras físicas que, para muitos, podem dificultar o ir e vir e ser um empecilho para novos encontros.

A inteligência artificial também ganha espaço nas redes, principalmente no Facebook e no Instagram. Com frequência, os algoritmos conseguem identificar quantas pessoas estão na foto, se alguém está sorrindo, e se há um animalzinho, por exemplo.

Mas, apesar de todas as novas possibilidades, a conexão nas redes por vezes ainda é falha e excludente. E talvez você possa fazer algo a respeito.

Vale lembrar. Pessoas com deficiência visual usam o celular com o apoio de leitores de tela, programas que leem o que é exibido pelo aparelho. Com isso, tudo fica bem fácil. Se estou vendo um post em uma rede social e deslizo o dedo para a direita, passo para o seguinte.

vamos testar juntos.

Abro meu Instagram. Na primeira foto, o algoritmo de reconhecimento da rede diz que a imagem pode ser de um drinque. Não há nenhum texto escrito pelo meu amigo acompanhando ela. Passo.

Próxima. Uma prima postou algo que o robô só conseguiu dizer que era uma imagem de texto. Ela escreveu como comentário “Assim é mais divertido”. Assim o quê? Não me diverti dessa vez.

Chego agora em uma imagem que, diz o robô da rede social, pode ter duas pessoas e um texto. O comentário da usuária diz “se inscreva”. Como não sei de que se trata, não me senti convidado. O leitor de telas tem dificuldade para identificar para mim os textos que estão em imagens.

 

Um meme. A inteligência artificial da rede diz que há um texto escrito “Planeta ficou doente porque está com a humanidade baixa”. Curti. Ponto para os robôs.

 

Mais uma. A moça conta no texto que acompanha a foto que está de bíquini na imagem. Explica porque é importante para ela dividir o clique e sobre os avanços na busca gradual por desenvolver sua autoestima. Entendi de que se trata e achei o texto bonito. Curti.
Agora uma foto postada pelo Milton nascimento. O sistema me conta que é uma imagem em preto e branco em local aberto. No comentário, diz “Frases que o vento vem as vezes me lembrar”. Fiquei me perguntando se seria o trem azul da canção. Desculpa, Bituca, não curti dessa vez.

Cada deslize da tela é uma surpresa. Será que vou conseguir saber de que se trata a próxima postagem? Hoje, recebemos só parte das informações, somos convidados só para algumas das conversas.

Bom que as empresas responsáveis pelas plataformas estejam atentas e automatizando as descrições. Mas fico só preocupado de as pessoas pensarem que, pela inteligência artificial já estar fazendo o trabalho, não é preciso contar de que se trata na hora de postar.

Penso que as redes fariam um grande serviço se deixassem cada vez mais explícita na hora em que o usuário vai compartilhar uma imagem a orientação de que, se ele fizer uma descrição da foto com suas palavras, vai se comunicar com mais gente.

Algumas vezes já me peguei constrangido de pedir que me fizessem descrições em materiais de uso profissional ou em grupos de amigos. Não deveríamos pensar assim, mas a verdade é que, para a pessoa com deficiência, por vezes fica a sensação de que está sendo o chato da vez ao pedir algo feito só para ela ou que está dando um trabalho a mais.

Para que tudo fique mais leve, é melhor olhar a história de outro ângulo. Que tal se todos adquirissem o hábito de fazer uma descrição do que postam sempre? Aí ninguém iria pensar: “Ah, o João descreve as imagens que ele posta porque tem aquele amigo cego” ou “ele faz isso porque trabalha com inclusão”. Deveríamos pensar “ele descreve porque é um rapaz informado”..

O hábito de contar o que está nas imagens só vai se disseminar se virar uma questão de moda ou etiqueta cibernética.  Se você leu esse texto até aqui, saiba que se eu te ver postando uma foto sem descrição vai ser que nem se tivesse te encontrado andando na rua de pijama ou mastigando com a boca aberta, estamos combinados?

Uma dica para disseminar a ideia é usar as hashtags #PraCegoVer ou #ParaTodosVerem. Não tenha vergonha. Dar acessibilidade para suas fotos só vão deixá-las mais bonitas.

 

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Plataforma brasileira de aluguel de filmes e séries com acessibilidade estreia em março https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/2021/02/13/plataforma-brasileira-de-aluguel-de-filmes-e-series-com-acessibilidade-estreia-em-marco/ https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/2021/02/13/plataforma-brasileira-de-aluguel-de-filmes-e-series-com-acessibilidade-estreia-em-marco/#respond Sat, 13 Feb 2021 19:56:16 +0000 https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/files/2021/02/parasita-300x215.jpg https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/?p=179 Será lançado no dia 15 de março o serviço PingPlay, de aluguel de filmes com acessibilidade para pessoas com deficiência. Os títulos trarão audiodescrição, Libras (Língua Brasileira de Sinais) e legendas descritivas.

Thais Ortega , coordenadora geral do projeto, realizado pela  Etc Fil,Filmes,  que produz recursos de acessibilidade, afirma que o aluguel na plataforma terá valor próximo aos praticado pelos demais serviços de locação online, variando de R$ 6,90 a R$ 18,90.

O principal filme no dia do lançamento do PingPlay será o sul-coreano “Parasita”, vencedor de quatro estatuetas no Oscar de 2020, incluindo a de melhor filme.

Ainda não há definição sobre a quantidade de títulos que estarão disponíveis nos primeiros dias. Ortega afirma que inicialmente o catálogo será formado principalmente por longas, mas que há a intenção de oferecer séries e curtas.

Isso não significa que o trabalho começa do zero. Segundo a coordenadora, a ETC Filmes já inseriu acessibilidade em mais de 700 títulos. A maior parte, porém, nunca foi assistida com os recursos pelo público.

Segundo ela, foi produzida audiodescrição, legendas e Libras para a maior parte dos filmes que chegaram ao cinema desde 2018, por exigência da Ancine (Agência Nacional de Cinema). Porém, a obrigação do oferecimento da acessibilidade nas salas de cinema foi sucessivamente adiada pelo Governo Federal e a maior parte do material segue inédito.

“Todos esses filmes perderam a janela que teriam para serem vistos com acessibilidade nos cinemas. Estamos falando de milhares de filmes com recursos produzidos, mas sem meio de exibição. Nossa plataforma deve tornar isso disponível”

Ortega afirma que um dos desafios para o avanço da acessibilidade no entretenimento é demonstrar que existe demanda e que trabalhar com esse mercado é viável economicamente. “Ainda há uma visão estereotipada de que as pessoas com deficiência formam uma camada da população que não é independente economicamente. Mas minha experiência diz o contrário. Acredito muito no potencial de consumo desse público.”

O Acesso ao PingPlay inicialmente será feito via navegador, preferencialmente por computador ou desktop. Ortega diz que a empresa trabalha no desenvolvimento de aplicativos para o serviço.

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Ausência de atenção do mercado leva falta de acessibilidade para casa da pessoa com deficiência https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/2021/02/07/ausencia-de-atencao-do-mercado-leva-falta-de-acessibilidade-para-casa-da-pessoa-com-deficiencia/ https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/2021/02/07/ausencia-de-atencao-do-mercado-leva-falta-de-acessibilidade-para-casa-da-pessoa-com-deficiencia/#respond Sun, 07 Feb 2021 14:51:13 +0000 https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/files/2021/02/Eletrodomestico-300x215.jpg https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/?p=171 A falta de acessibilidade tende a ser vista como um problema que está do lado de fora de casa, na calçada mal cuidada, no restaurante sem cardápio em braille, no cinema que não oferece audiodescrição.

Na verdade, nem é preciso levantar do sofá para perceber como coisas simples, como escolher o canal na televisão, podem representar tarefas ingratas.

Uma visita à cozinha deixa o problema ainda mais explícito. A evolução da tecnologia fez sumirem os botões que podiam ser sentidos com os dedos e colocou em seu lugar painéis cada vez mais lisos e, a seguir, telas touch screen. É comum cegos decorarem a posição de só um botão do micro-ondas e ignorarem o resto ou dependerem de ajuda de alguém para controlar equipamentos como forno elétrico e a cafeteira.

Com frequência, os eletrodomésticos de quem tem deficiência visual parecem ter ficado todos com catapora. Isso porque um truque comum para driblar a dificuldade de manuseio é colar bolinhas de silicone ou adesivo em pontos estratégicos, ao lado dos principais botões, para que a pessoa consiga controlá-los pelo tato.

Incomodado com a quantidade de equipamentos inadequados que trazia para sua casa, naziberto de Oliveira, 56, que é cego, começou a tornar públicas suas queixas e de outras pessoas a partir de 2019.

A princípio, sua iniciativa chamava Cego Consumidor. Mais tarde, decidiu ampliar o alcance do projeto e mudou o nome para Reclame Acessibilidade, para tratar também de dificuldades vivenciadas por pessoas com outras deficiências.

Inspirado no Reclame Aqui, o Reclame Acessibilidade incentiva consumidores a gravarem vídeos mostrando equipamentos que possuem e não conseguem usar sozinhos ou acionar todas as funções para tentar fazer as empresas se mexerem. O conteúdo é divulgado a partir de canal no YouTube e nas redes sociais Facebook e Instagram.

Também há um programa semanal, exibido a partir da rádio online Contraponto nas quartas-feiras, das 20h às 21h, com entrevistas com consumidores com deficiência. A gravação fica disponível no YouTube.

Segundo Naziberto, sua busca é por igualdade de condições no consumo. Em sua avaliação, pessoas com deficiência ainda não são vistas como parte do mercado e, para ele, a mudança também depende do engajamento do próprio grupo. “Queremos comprar e pagar pelo preço que as coisas custam, mas também queremos usufruir da mesma forma que todos.”

Para Naziberto, a principal frustração em seu dia a dia é a falta de acessibilidade nos serviços de TV por assinatura e na maior parte dos streamings de vídeo, que não oferecem um sistema de navegação que leia os menus e a programação a partir de voz —a exceção é a Netflix, que tem uma boa interação para cegos.

“Se a pessoa cega aperta um botão errado, precisa esperar alguém que enxerga para ajudar e fazer a televisão voltar ao normal.”

Na outra ponta, o bom exemplo aparece nos aparelhos de celular, que vêm de fábrica com software leitores de tela e permitem acessar a maioria de suas funções com autonomia. O acerto no caso é que um mesmo produto pode ser usado por qualquer consumidor, sem a necessidade de adaptações ou compra de versões ou complementos caros para que seja acessível.

Segundo Naziberto, algumas marcas já responderam às queixas de consumidores no Reclame Acessibilidade, mas ainda não foi possível ver mudanças concretas. Em geral, dizem estar atentas ao assunto, afirma.

Ele cita como avanço obtido com o movimento o incentivo à criação do Projeto de Lei 4713/2020, da senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP), que oferece incentivos para empresas desenvolverem pesquisas relacionadas à acessibilidade em eletrodomésticos.

Tornar um equipamento acessível não significa, necessariamente, alterar de forma drástica seu design e colocar braille em todos os espaços possíveis. Caso você esteja lendo o texto em um computador, entenderá isso rapidamente. Coloque seus dedos indicadores sobre as letras F e J do teclado. Esse pequeno traço que talvez você não soubesse que existia ajuda pessoas que não enxergam a posicionar a mão sobre o teclado e ter uma referência para encontrar as demais teclas. Caso você tenha um telefone de botões antigo ou uma maquininha de cartão por perto, perceberá recurso semelhante no número 5.

Um pouco de criatividade pode ser o suficiente para estarmos todos em igualdade de condições.

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Gerenciamento de WhatsApp é a habilidade do futuro https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/2020/12/07/regras-de-boa-convivencia-no-whatsapp/ https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/2020/12/07/regras-de-boa-convivencia-no-whatsapp/#respond Mon, 07 Dec 2020 12:00:06 +0000 https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/Foto-300x215.jpg https://hajavista.blogfolha.uol.com.br/?p=109 Uma habilidade que passou a ser exigida do jornalista com o avanço tecnológico é o gerenciamento eficiente de WhatsApp. A cada dia, o contato com fontes e colegas por email e ligação telefônica perde um pouco de espaço e o volume de mensagens, importantes ou não, cresce exponencialmente.

Muitas pessoas, quando ficam sabendo que tenho deficiência visual, passam a enviar mensagens de áudio. Pode até ser bom quando a intenção é bater papo com calma, mas não precisa e não é uma boa ideia se o assunto for urgente, pois provavelmente eu vou deixar as gravações para o final da fila. Isso porque os celulares tem um sistema leitor de tela que passa para mim em alta velocidade tudo o que está escrito, inclusive figurinhas. Se estou com ele ligado e na mão, a notificação aparece e é lida na hora.

Minha solução para dar conta de todos os recados antes da hora do fechamento é usar um pequeno teclado sem fio que se conecta ao celular para conseguir responder a todos rapidamente. Os dias em que por algum acaso esqueci de levá-lo para o trabalho trouxeram sensação parecida com a daqueles sonhos nos quais saio de casa e só percebo que estou de pijamas quando chego no trabalho.

Mas trabalhar com o aplicativo dessa forma tem suas diferenças. Por isso a pergunta que minha chefe me fez noutro dia é muito boa. Ela queria saber se, para mim, seria melhor receber mensagens longas ou curtas.

Eu ainda não tinha uma resposta pronta para isso. É certo que me causa terror quando alguém começa a enviar uma sequência com meia dúzia de mensagens curtas de uma só vez. O apito do celular já me coloca a imaginar qual foi o desastre que aconteceu ou o que será que eu fiz de errado dessa vez para alguém me procurar com tanta urgência. Na maioria das vezes, não é nada. A primeira diz “Oi, Filipe”, a segunda diz, “Boa tarde”, a terceira “te enviei um email agora” e a quarta “Você confirma que chegou?”.

Isso me faz pensar que textos longos são melhores. Acontece que, caso o redator exagere, também há desvantagens. Isso porque, ao menos no WhatsApp, só consigo acessar a mensagem do começo ao fim. Se chega alguma outra notificação qualquer enquanto o sistema que lê para mim está no último de sete parágrafos, já era, será preciso começar tudo outra vez.

Acontece todos os dias. Eu estou ali, querendo saber o final da história, até que o aparelho começa a apitar: “Oi, Filipe”, “Tudo bem?”. Começo de novo. Acelero a voz artificial para que chegou no final mais rápido. Voltei ao mesmo ponto e…”Está um dia bonito né?”. Suspiro.”

Há uma gambiarra para lidar com a situação. O que faço é copiar o texto todo de uma vez e colar num bloco de notas, assim posso ler aos poucos, descendo linha por linha com ajuda do teclado. Preciso fazer isso com tanta frequência que estou com mais de 300 notas que foram criadas dessa forma e não apaguei.

Para tentar evitar os dois problemas, minha proposta para uma etiqueta cibernética para não enlouquecer seu amigo que tem deficiência visual é usar o caminho do meio. Mensagens próximas a um tuíte de 140 caracteres estão de bom tamanho. Mais do que isso, melhor dar uma picotada. Mas deixa o “oi, tudo bem” junto com a primeira mensagem e o “obrigado, tchau”, junto com a última, por favor. Minha pressão arterial agradece.

Se o aplicativo já é fonte de adrenalina quando a conversa é com uma pessoa por vez, tentar acompanhar uma série de grupos simultâneos é uma montanha-russa cheia de loopings que anda de frente para trás.

Ali, além de ler o conteúdo de cada pequena mensagem, meu fiel leitor de telas fala o nome de quem mandou cada uma delas. Então, a cada “oi”, “tudo bem”, “hahaha”, ou “kkkk” de um participante do grupo, escuto antes a frase “mensagem de fulano”. Quando a conversa está frenética, com todos falando ao mesmo tempo, é inevitável que eu tenha de correr saltando barreiras para não ficar atrasado no assunto, com tanta “mensagem de amigo X”, rsrsrs” para ultrapassar..

Claro que o WhatsApp faz bem ao avisar quem escreveu o quê. A acessibilidade no aplicativo é boa, não imagino solução melhor. Minha única sugestão mesmo é acabar com isso tudo e voltarmos às comunidades do Orkut.

Sinto ainda mais culpa por não conseguir interagir bem em grupos formados principalmente por pessoas com deficiência visual. Ali, o que rola solto mesmo são as mensagens de áudio. Quando volto lá após um tempo, tem mais de hora de conteúdo me esperando. Desisto antes de começar.

Pois é, amigos, não é nada particular, mas já planejo meu detox virtual para o final do ano. Não aguardem respostas rápidas para suas mensagens, mas ficarei feliz em receber um telefonema de Natal.

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